Acordei com coceira para escrever. Azar de quem acordou com coceira para ler.
Se a boca é o órgão excretor do cérebro, esse blog é meu vaso sanitário, porém o botão da descarga está aos seus dedos, caro leitor. Portanto que se dê vazão às coceiras até que a descarga decida a hora de parar...
Direto ao ponto: quero minha casa própria casa.
Já sei, recebi de Jesus moradia eterna de alto padrão, terraço gourmet com vista para a terra, no condomínio Portais das Oliveiras. Mas quem liga pra coisas eternas?
Parafraseando meu caro Gerson Borges, voltemos ao chão das coisas, às coisas do chão, ao chão de porcelanato, laminado, cerâmica, iluminado.
Mas a coceira começa antes, muito antes do chão.
Visitar um apartamento usado pode parecer um passeio no circo. Até me divirto com corretores e proprietários mágicos, malabaristas e domadores. E olha que o palhaço nem sempre é o comprador. Só um artista consegue fazer de um simples varal um atrativo para sua casa... “tudo o que você está vendo fica, inclusive o varal!!!”
Depois de 318 bons dias, boas tardes e boas noites, finalmente o castelo é escolhido.
Xerox autenticado reconhecido firmado autorizado e coberto com delicioso chocolate nestlé de todos os papéis que um dia receberam minha assinatura. Aquela lista interminável e confusa de documentos com queijomolhoespecialcebolapicle snopãocomgergelim. O cardápio é tão grande que só com ajuda do garçom, ou melhor, do documentista, pra fechar o pedido.
Estou conhecendo o ITBI – Imposto Tirado do Bolso dos Idiotas. Oh patria amada, mãe gentil, não da pra me livrar dessa? Prometo que pago os outros 318 impostos... (ou os 318 que vão me ajudar a me livrar deles)
O contrato é algo tão simples e claro quanto a mente das mulheres. Cheios de caput, data vênia, anticrese, acórdão, enfiteuse, usocapião, tornam-se uma agradável leitura até para os menos apaixonados por Machado de Assis.
Cuidadosamente tirado do bolso o escorpião, cospe-se a entrada e engole-se 318 parcelas mensais para o resto de sua vida, afinal é o barracobículo dos seus sonhos que está em jogo.
Agora, de fato, voltamos às coisas do chão. Coça daqui, coça de lá, não sei o que faço, compro arroz ou argamassa? Feijão ou porcelanato? Essa coceira da casa tá me dando uma coça.
Com 318 centavos que sobraram no fim do mês, vou relaxar com minha esposa no terraço gourmet do nosso apErtamento, assando um bifinho de 10x5 cm pra cada (um de cada vez, é o que cabe na churraquinha).
Pra quem ainda não deu descarga, segure mais um pouco. Comprar a casa própria não precisa ser o Triste Fim de Seu Policarpo e Dona Quaresma.
Quem disse que gessos, janelas e pisos tem que causar gastrite? Não se precisa nem de 318 centavos para comprar 318 beijos apaixonados que curam qualquer preocupação.
A alegria não está nas coisas do chão, da parede, da sacada. Mas sim nas coisas do …. coração. Eu sei, bem piegas, você já tinha completado antes de eu escrever. Mas não dê descarga, porque antes que se diga trezentosedezoito, o chão já se foi, e para onde foi tanta preocupação, para onde foi a vida?
A vida não se constrói com tijolo e cimento. Vida se constrói com vida, com o autor da vida.
Mais importante mesmo é pensar em coisas eternas do que coisas que passam em 318 segundos.
Depois que o chão se for, seus 318 tijolos vão ficar não sei pra quem, e pra onde você vai? E mais importante, perto de quem você vai ficar?
Tem alguém que quer morar em você hoje para que você more com Ele quando o chão se for.
“Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar.” - Jesus
Minha coceira de escrever passou, até a coceira da cassa própria, agora falta a da casa eterna...